Anticonvulsivantes no tratamento da dor crônica: Como funcionam e quando são indicados?

Por que os médicos de dor prescrevem anticonvulsivantes para tratamento da dor crônica?

A dor crônica é um desafio clínico complexo que muitas vezes exige abordagens terapêuticas além dos analgésicos convencionais, pois a resposta analgésica a eles é limitada. Entre as opções disponíveis, os anticonvulsivantes se destacam por seu efeito analgésico em condições de dor neuropática e outras síndromes dolorosas. Mas como esses medicamentos, originalmente desenvolvidos para tratar epilepsia, atuam na dor?


Como os anticonvulsivantes agem na dor?

Na dor crônica, existe um desbalanço entre neurotransmissores excitatórios (que estimulam) e inibitórios (que diminuem os impulsos), resultando em um aumento da excitabilidade neuronal tanto periférica quanto central. Os anticonvulsivantes exercem sua ação no sistema nervoso central modulando a excitabilidade neuronal, diminuindo as descargas neuronais. Seu mecanismo envolve:

  • Bloqueio de canais de cálcio dependentes de voltagem (VGCCs):
    • Reduz a liberação de neurotransmissores excitatórios, como o glutamato.
    • Exemplos: Gabapentina e Pregabalina.
  • Modulação de canais de sódio dependentes de voltagem (VGSCs):
    • Diminui a hiperexcitabilidade neuronal, estabilizando as membranas.
    • Exemplos: Carbamazepina e Oxcarbazepina.
  • Aumento da neurotransmissão inibitória via GABA:
    • Potencializa o efeito do GABA, promovendo inibição da dor.
    • Exemplos: Valproato e Clonazepam.
  • Redução da atividade neuronal espontânea anômala:
    • Atua na plasticidade sináptica e na sensibilização central, fenômenos comuns na dor crônica.

Indicações na Dor Crônica

Os anticonvulsivantes são particularmente eficazes em condições de dor neuropática e algumas síndromes dolorosas crônicas, incluindo:

  • Neuropatia diabética: Pregabalina e Gabapentina são as principais escolhas.
  • Nevralgia do trigêmeo: A Carbamazepina é a medicação de primeira linha.
  • Dor pós-herpética: Pregabalina e Gabapentina reduzem a dor e melhoram a qualidade do sono.
  • Síndrome da dor lombar crônica com radiculopatia: Podem ser úteis para dor irradiada.
  • Fibromialgia: Pregabalina tem eficácia comprovada no alívio da dor e melhora da função.

Vantagens e desafios do uso

  • Eficácia em dor neuropática resistente a opioides e anti-inflamatórios.
  • Bom perfil de segurança, especialmente nas doses ajustadas para cada paciente.
  • Auxilia na melhora do sono e redução da ansiedade associada à dor.

Possíveis efeitos colaterais

  • Sonolência e tontura: Pregabalina, Gabapentina.
  • Náuseas, ganho de peso: Valproato.
  • Hiponatremia: Carbamazepina, Oxcarbazepina.
  • Risco de interações medicamentosas, especialmente com anticoagulantes e sedativos.

O uso de anticonvulsivantes na dor crônica é um grande avanço terapêutico, especialmente para condições neuropáticas. Seu mecanismo de ação vai além do controle epiléptico, oferecendo um efeito modulador da dor que melhora a qualidade de vida dos pacientes.

Entretanto, a escolha da medicação deve ser individualizada, considerando o perfil do paciente e os possíveis efeitos adversos. É muito importante que o paciente saiba que o medicamento anticonvulsivante não é um analgésico, que não deve ser tomado em momentos de dor, e que é um tratamento contínuo que não deve ser modificado sem orientação médica.

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